{"id":1320,"date":"2020-02-13T12:24:39","date_gmt":"2020-02-13T11:24:39","guid":{"rendered":"https:\/\/funveca.org\/nao-categorizado\/que-narices-es-un-coach-br\/"},"modified":"2020-02-26T19:02:37","modified_gmt":"2020-02-26T18:02:37","slug":"que-narices-es-un-coach-br","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/funveca.org\/pt-br\/rincon-pt-br\/que-narices-es-un-coach-br\/","title":{"rendered":"O que \u00e9 que \u00e9 isso de \u201ccoach\u201d?"},"content":{"rendered":"

Atualmente a palavra \u201ccoaching\u201d<\/strong> \u00e9 onipresente na m\u00eddia e no jarg\u00e3o cotidiano de muitas pessoas e empresas e quando se utiliza d\u00e1 a impress\u00e3o de que quem o faz tenta enfatizar a import\u00e2ncia desse movimento. N\u00e3o obstante, se considerarmos que \u201ccoaching\u201d \u00e9 um termo vazio de conte\u00fado cient\u00edfico<\/em>, por que tanto esfor\u00e7o em us\u00e1-lo e divulg\u00e1-lo?<\/p>\n

Segundo a Wikipedia, \u201ccoaching\u201d \u00e9 um m\u00e9todo? que consiste em acompanhar, instruir ou treinar uma pessoa ou um grupo delas, com o objetivo de atingir metas ou desenvolver habilidades espec\u00edficas com um forte apoio da motiva\u00e7\u00e3o<\/em>, a responsabilidade <\/em>e a criatividade<\/em>. \u00c9 algo t\u00e3o difuso que quase qualquer tipo de ensino poderia ser considerado \u201ccoaching\u201d. Por exemplo, poder\u00edamos falar de um \u201ccoaching\u201d da constru\u00e7\u00e3o, onde um pedreiro experiente treina aos novos aprendizes para colocar tijolos de maneira eficaz e criativa, ou um \u201ccoaching\u201d da jardinagem, onde um jardineiro experiente assessora a outras pessoas para aplicar sua criatividade em desenhar bonitos jardins. pud\u00e9ssemos at\u00e9 falar de um \u201ccoach\u201d da pol\u00edtica, onde um pol\u00edtico experiente poderia ensinar outros pol\u00edticos novatos de seu partido a utilizar a linguagem para enganar e mentir os cidad\u00e3os (e poss\u00edveis votantes)\u2026, mas isto j\u00e1 seriam outros quinhentos. <\/p>\n

O termo \u201ccoach\u201d<\/strong> (do ingl\u00eas) tem uma proced\u00eancia direta do \u00e2mbito esportivo (\u201ctreinador\u201d ou t\u00e9cnico em portugu\u00eas), mas aplicado a outros \u00e2mbitos se deveria traduzir de outras maneiras (n\u00e3o s\u00f3 treinador). Assim, poder\u00edamos falar de preparador<\/strong>, mentor<\/strong>, consultor <\/strong>ou assessor <\/strong>em vez de usar o termo \u201ccoach\u201d, mas este termo deve ser mais moderno, mais cool. Falamos de \u201ccoaches\u201d e assim aparece, de forma ma\u00e7ante, em canais de televis\u00e3o, na imprensa escrita, em programas de r\u00e1dio ou nas redes sociais. A ignor\u00e2ncia generalizada. E ningu\u00e9m argumenta que talvez, e s\u00f3 talvez, estamos incentivando uma pr\u00e1tica enganosa. Mas como h\u00e1 dia n\u00e3o importam os meios mas o objetivo, qualquer estrat\u00e9gia vale.<\/p>\n

Aparentemente, qualquer pessoa pode fazer \u201ccoaching\u201d e qualquer um pode ser um \u201ccoach\u201d. Quais estudos universit\u00e1rios precisa ter seguido? Nenhum<\/strong>. Para ser um \u201ccoach\u201d n\u00e3o \u00e9 necess\u00e1rio ter conclu\u00eddo nenhuma carreira anteriormente. Muitos dos que se dizem \u201ccoaches\u201d podem vir de disciplinas muito diferentes, como econ\u00f4micas, arquitetura, direito, por dizer algumas, embora a suposta mat\u00e9ria que trabalhariam perten\u00e7a basicamente \u00e0 psicologia e deveriam ser os psic\u00f3logos os que teriam que abordar esse tipo de treinamento, se houver algo que treinar a s\u00e9rio<\/strong>. Mas h\u00e1 alguns psic\u00f3logos que se anunciam como \u201ccoaches\u201d, que \u00e9 uma maneira de rebaixar a profiss\u00e3o de psic\u00f3logo e dizer que fazem o mesmo que outras pessoas sem carreira universit\u00e1ria ou com uma carreira que n\u00e3o tem nada a ver com a psicologia. Mas como est\u00e1 na moda, sigamos a moda. As atividades de \u201ccoaching\u201d n\u00e3o est\u00e3o regulamentadas pelos Estados atrav\u00e9s do Minist\u00e9rio de Educa\u00e7\u00e3o, nem do Minist\u00e9rio de Sa\u00fade, nem do Minist\u00e9rio de Cultura. Que benef\u00edcios produz anunciar-se como \u201ccoach\u201d? \u00c9ticos, nenhum. Entretanto, devido a seu n\u00edvel de divulga\u00e7\u00e3o na m\u00eddia, h\u00e1 pessoas que se sentem atra\u00eddas por esta pr\u00e1tica n\u00e3o cient\u00edfica<\/strong> de maneira semelhante ao que acontece em outras muitas pseudo-terapias (reiki, homeopatia, flores do Bach, etc.) <\/p>\n

Tal e como diz um de tantos \u201ccoaches\u201d que abundam no \u00e2mbito das pseudo-ciencias, o \u201ccoaching\u201d \u00e9 baseado na descoberta de si mesmo<\/em>, da consci\u00eancia essencial do ser<\/em>. O que ser\u00e1 a \u201cconsci\u00eancia essencial do ser\u201d? Se, como psic\u00f3logo, n\u00e3o o entendo, duvido que muitas pessoas o entendam, mas como aparece bonito, deve ser algo importante\u2026 t\u00e3o importante que n\u00e3o tem nenhuma base cient\u00edfica. Mas parece que para alguns n\u00e3o basta o \u201ccoaching\u201d, mas promovem o \u201csupercoaching\u201d e, por que n\u00e3o, o \u201cmegacoaching\u201d ou o \u201cultracoaching\u201d, ou mesmo, o \u201cneuro coaching\u201d, juntando duas palavras atualmente de moda, podendo chegar \u00e0 apoteose com um megatermo como o \u201csuperneurocoaching\u201d. Quanto mais exageremos a palavra mais f\u00e1cil ser\u00e1 que as pessoas (ing\u00eanuas) caiam na armadilha. E como acontece com tudo este tipo de ensino n\u00e3o cient\u00edfico, ser\u00e1 necess\u00e1ria uma boa dose de f\u00e9 por parte de quem acredita para que lhe funcione<\/em>. Inclusive algum \u201ccoach\u201d expressa que todos os problemas precisam de uma solu\u00e7\u00e3o espiritual. Ou seja, placebo <\/strong>e mais placebo. Com base em conceitos vazios tenta convencer ao interessado de que pode mudar sem fazer praticamente nada, mas, seguidamente, lhe exige que se comprometa cem por cento com as estrat\u00e9gias do \u201ccoaching\u201d. E para isso se apela, com bonitas palavras, \u00e0s virtudes inatas e onipresentes que todo ser humano tem pelo fato de nascer, a supostas ess\u00eancias fundamentais das pessoas, a mecanismos ocultos que ainda n\u00e3o temos descoberto. Em suma, “todos n\u00f3s temos um grande potencial n\u00e3o desenvolvido”<\/strong> (uma frase m\u00e1gica <\/em>[e vazia<\/em>] que prende a maioria das pessoas) e o “coaching” nos salvar\u00e1 fazendo realidade esse potencial. E se acreditam, veremos pessoas que nos dizem … “mas funciona para mim”. \u00c9 o chamado de “amimmefuncionismo”, um fen\u00f4meno frequente nas chamadas pseudo-terapias e que se explica habitualmente pelo efeito placebo<\/strong>. No entanto, se a algu\u00e9m n\u00e3o o funciona, \u00e9 porque n\u00e3o se comprometeu o suficiente para desenvolver esse potencial. Ou seja, o bom se aponta no \u201chaver\u201d do “coach” e o mau no \u201cdeve\u201d da pessoa. Em suma, outro pseudo-assesoramento, pseudo-psicolog\u00eda ou pseudo-pedagogia mais, de moda em nossos dias, com aceita\u00e7\u00e3o acr\u00edtica de muitos profissionais <\/strong>(e n\u00e3o profissionais) de diferentes ramos, muitas vezes devido \u00e0 ignor\u00e2ncia e outras com o objetivo final de ganhar dinheiro \u00e0s custas dos ing\u00eanuos que o escutam. E se voc\u00ea quiser saber mais sobre a ingenuidade do ser humano, pode dar uma olhada ao livro, recentemente publicado, de Caballo e Salazar (2019). <\/p>\n

Refer\u00eancias
\nCaballo, V. E. e Salazar, I. C. (2019). Ing\u00eanuos. O engano das terapias alternativas. Madri: Siglo XXI de Espa\u00f1a.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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